Existem pessoas que, através do seu comportamento e da sua integridade ao longo da vida, conquistam o nosso respeito e tornam-se uma referência capaz de impulsionar importantes mudanças no nosso dia-a-dia. O Diogo e a Sílvia são incríveis: profundamente apaixonados um pelo outro, profissionais incansáveis e pais conscientes. Actualmente vivem no Luxemburgo. Numa das suas visitas a Lisboa, o veganismo tornou-se imediatamente o tema central do jantar entre amigos. Quando perguntei ao Diogo o que o levou, há três anos atrás, a deixar de comer carne, ele respondeu-me: “a preocupação com o planeta”.
Eu não percebi logo como é que salvar o planeta passa por comer menos carne, mas a resposta do Diogo suscitou automaticamente em mim uma vontade enorme em saber mais sobre o assunto.
Salvar o planeta passa por comer menos carne
Li muito, vi alguns documentários e agora posso fazer-vos uma tour pelo mundo da produção animal. Preparem-se pois vão ficar chocados.
Ovelhas, cabras, porcos e galinhas foram domesticados durante a Revolução Agrícola e, hoje, são, a seguir aos humanos, as espécies mais disseminadas do planeta. No entanto, estes números não são necessariamente positivos. A domesticação destes animais teve por base uma série de práticas brutais, que se tornaram cada vez mais cruéis com o passar dos séculos.
Logo depois do seu nascimento, um vitelo que tenha nascido numa exploração industrial de carne é separado da mãe e trancado numa jaula minúscula, pouco maior que o seu próprio corpo. Passará ali toda a sua vida – cerca de 4 meses. Nunca deixará a jaula, nem lhe será permitido brincar com outros vitelos ou mesmo andar – para que os músculos não se tornem demasiado fortes. Músculos fracos significam que a carne será mais suculenta e macia. A primeira vez que o vitelo terá a oportunidade de andar, esticar os músculos e tocar noutros vitelos será a caminho do matadouro.(1) Durante os meses em que lhe foi permitido viver, o vitelo foi alimentado a milho e soja geneticamente modificada, aos quais se juntam microtoxinas, antibióticos, proteínas priónicas, esteróides, pesticidas, metais pesados e patógenos bacterianos.(2)
E os factos não ficam por aqui. A agropecuária é a principal causa da desflorestação, do consumo de água e da poluição. Para produzir apenas 1kg de carne de vaca são precisos 15.000litros de água potável e 10kg de ração cujo fabrico produz CO2. As vacas produzem enormes quantidades de metano, um gás altamente poluente e as pastagens (quando existem) são inundadas com fertilizantes, que contaminam os cursos de água e consequentemente entram na alimentação. Percebem agora ao que me refiro quando digo que salvar o planeta passa por comer menos carne?
No fim de todas estas agressões, um terço da comida produzida mundialmente é desperdiçada, nunca chegando sequer a ser consumida. Esta percentagem é ainda superior em certos países desenvolvidos.
Finalmente entendi
Belo murro no estômago, certo? Eu também o senti. Não sou fundamentalista, nem acredito que a solução passe por sermos todos veganos ou vegetarianos. Mas, se realmente nos preocupamos com o sítio onde vivemos, devemos tomar consciência das nossas escolhas alimentares e do impacto que elas têm na Terra. A escolha de renunciar à carne ou, pelo menos, reduzir o seu consumo para um nível ajustado ao equilíbrio do ecossistema, tornar-nos-á mais saudáveis e, consequentemente, terá o mesmo efeito no planeta. Salvar o planeta passa por comer menos carne! Vamos pensar mais sobre isto? 🌿
Artigo relaccionado: Veggie
(1) “Sapiens“, Yuval Noah Harari
(2) “Food Program: Animal Feed”, Grace Communications Foundation
Foto do artigo: Pinterest