O problema não é o plástico

Quando decidi preocupar-me não só com o meu umbigo mas também com o impacto que as minhas escolhas têm no planeta onde vivo, iniciei uma “batalha contra o plástico”, como escrevi no prefácio a este site. Proibi-me de utilizar garrafas, copos ou palhinhas descartáveis e fugi de todas as embalagens de plástico em geral. As imagens das ilhas de plástico no Pacífico e os vídeo de animais marinhos mortos chocaram-me e, tal como eu, muitos consumidores estão assustados. Odiamos o plástico e estamos a substituí-lo por outros materiais como o alumínio, o cartão, o bambu ou o papel. Mas será este o caminho? Será o plástico o nosso verdadeiro problema?

O problema não é o plástico

O plástico é um material forte e, ao mesmo tempo, leve. Consome poucos recursos e necessita de pouca energia na sua produção, tornando-se barato. É fácil de transportar e é tão resistente que pode levar até 500 anos a degradar-se.

Mas todas estas fantásticas características são hoje um problema. O plástico invadiu o ambiente e está a pôr em risco várias espécies animais. Nós culpamo-lo por não se degradar. Mas com que sentido largamos materiais no ambiente e esperamos que se degradem por si próprios? O problema não é o plástico mas sim a forma como o usamos e o descartamos. O plástico continua a ser um bom recurso e é importante recuperá-lo, reciclá-lo e mantê-lo dentro do ciclo das matérias primas. Quando o plástico invade o ambiente, a culpa não é do material, é nossa!

A substituição do plástico

Nesta luta contra o plástico, perdemos o foco e convencemo-nos que as alternativas ao plástico são sempre melhores. É mentira!

Se repararem, nas lojas de roupa, por exemplo, é cada vez mais raro as marcas oferecerem sacos de plástico para as compras – agora elas oferecem sacos de cartão! Mas a verdade é que o papel requer muito mais energia para ser produzido e reciclado que o plástico. Além disso, usa mais água, mais terra e árvores! Um saco de papel reciclado, de 50g, teria de ser reutilizado 4 vezes para ter uma pegada igual a um saco de plástico descartado após uma única utilização.

Solução: recusar o saco de plástico e o saco de cartão!

As embalagens de comida para take-away são outro exemplo da incorrecta substituição do plástico pelo cartão: o papel com gordura não pode ser reciclado e pode, inclusive, contaminar e pôr em causa um contentor inteiro de cartão para reciclagem.

Solução: usar embalagem própria para take-away. Reduzir home delivery.

Os copos para chá e café foram substituídos, em muitos caterings e cantinas, por cartão ou cartão plastificado. O cartão molhado não pode ser reciclado e ao plastificar o cartão é impossível separar os dois materiais, comprometendo a sua reciclagem.

Solução: usar um copo reutilizável (o mesmo se aplica às palhinhas!).

O bambu ganhou destaque na luta contra o plástico – é uma planta que se renova muito depressa e consome pouquíssima água. Ao contrário do plástico, é biodegradável! Mas a maior parte das pessoas não descarta o bambu correctamente. Se eu colocar o cabo da minha escova de dentes de bambu usada no contentor do lixo comum, ela não se degradará. O bambu em fim de vida deve ser colocado no contentor de compostagem, no contentor castanho de lixo orgânico ou deve ser enterrado na terra.

A verdade é que, se substituíssemos todas as embalagens de plástico por outros materiais como o vidro, o metal, ou o cartão, a quantidade de material necessário, a quantidade de energia e as emissões de CO2 resultantes explodiriam.

A solução

A solução não passa, portanto, por substituir todo o plástico! A solução passará sempre por reduzir o número de embalagens e de utensílios descartáveis ou desnecessários (sejam de plástico, cartão, alumínio, vidro ou bambu) e fazer o correcto descarte de cada um dos materiais. Os nossos maiores aliados são os objectos que promovem a reutilização (garrafas, copos, sacos) e as compras a granel.

Além de tudo isto, é importante reconhecer o poder do consumidor: se evitarmos os produtos em várias embalagens (as maior parte das pastas de dentes vêm dentro de um tubo e de uma caixa de papel. Já pensaram sobre isto?) e se não comprarmos embalagens mistas (que combinam diferentes materiais, impossíveis de separar e de reciclar), as empresas serão obrigadas a alterar o seu packaging para sobreviver no mercado.

O problema não é o plástico mas sim a forma como o usamos e o descartamos! 🌿

Artigos relacionados:
“O Plástico – De Messias a Vilão”
“Trocar o plástico pelo bambu”
“Os mitos da reciclagem”