Campanhas de marketing desenhadas para criar desejos de consumo, preços cada vez mais baixos e tendências fast fashion que nos chegam a todo o momento, fazem-nos comprar cada vez mais roupa e levam-nos a usá-la cada vez menos tempo. A indústria têxtil é considerada uma das mais poluentes do planeta e o nosso consumo desmedido tem um impacto dramático nas condições de vida dos trabalhadores fabris, longe dos olhares ocidentais. Por favor, vejam o True Cost.
Eu sempre tive uma relação saudável com a moda. Nunca fui uma consumista insaciável mas a verdade é que também já cometi algumas loucuras e compras por impulso. E, como a maioria de nós, dei por mim com um armário cheio de roupa que não usava, apegada a peças das quais já não gostava, que ocupavam demasiado espaço, ganhavam pó e dificultavam a minha vida. Numa altura em que somos obrigados a permanecer em casa, pela nossa sáude, e a repensar muitos dos nossos hábitos e escolhas, mostro-vos como conseguir um armário consciente em 3 passos!
1. Tudo para fora! Destralhar!
O primeiro passo é retirar todas as peças do armário e avaliar uma a uma. Para cada peça, seis perguntas:
- Fica-me bem?
- Sinto-me bem quando a uso?
- Uso frequentemente?
- Está em bom estado?
- Estou apegada emocionalmente?
- É de difícil manutenção?

Eu excluí as peças demasiado grandes, demasiado apertadas ou que simplesmente não me favoreciam. Preferi as peças que me fazem sentir bem e que me transmitem confiança e conforto. Peças velhas ou demasiado gastas, sem arranjo possível, saíram, assim como, todas aquelas que não eram usadas há mais de um ano. Identifiquei as peças sem qualquer utilidade, às quais estava apegada emocionalmente, e as de manutenção difícil, que me roubavam espaço e tempo valiosos. Tentei ao máximo manter-me fiel à missão e não ceder a argumentos como “Foi tão caro!” ou “Posso vir a precisar”! Ficaram as peças básicas, intemporais, de cores neutras e materiais resistentes, que podem ser combinadas de várias formas. Ofereci algumas das peças excluídas às minhas amigas e doei as outras a instituições de solidariedade. Mas também poderia tê-las vendido na Micolet ou no OLX.

Por favor experimentem: um armário organizado, limpo e com as peças visíveis dá-nos uma sensação incrível de bem estar.
2. Consciência na compra
Não se enganem: manter um closet minimalista é mais difícil do que destralhar. É muito importante ter noção que o nosso armário é o resultado das nossas escolhas. Escolhas irracionais e impulsivas levarão qualquer guarda-roupa limpo de volta à acumulação.
Na hora de comprar é muito importante parar para pensar:
- Preciso mesmo?
- Posso comprar em segunda-mão?
- É versátil?
- Tem qualidade e vai durar muitos anos?
- É de fácil limpeza/manutenção?
- Foi produzido de forma sustentável/responsável?
Cada vez são mais as marcas preocupas com a sua pegada ambiental e com o seu impacto social, decididas a fazer moda de uma forma mais sustentável. São marcas que fazem slow fashion, transparentes nos seus processos, que usam materiais conscientes (orgânicos, reciclados ou dead-stock) e respeitam recursos (água, electricidade) nas pequenas colecções que produzem localmente. São marcas que remuneram justamente os seus trabalhadores e investem na circularidade aceitando, muitas vezes, as peças usadas, em fim de vida, para reciclagem ou upcyling.
Deixo-vos o exemplo de 5 marcas portuguesas empenhadas em fazer moda de forma responsável, para que possam fazer escolhas sábias. Este não é o momento para fazer compras mas, quando esta fase passar e a compra for mesmo necessária, espreitem estas sugestões. O nosso poder de compra incentiva a produção. É importante incentivar a produção responsável!
@basevillept
@mycleonice
@naz.fashion
@conscious_swimwear
@isto.pt
3. prolongar o Ciclo de Vida da roupa
É importante ter noção da quantidade de recursos que uma peça de roupa envolve, desde a produção, fabrico, transporte e uso (lavar, secar e engomar). Para diminuir todo este impacto, devemos prolongar ao máximo o seu ciclo de vida:
REUTILIZAR o máximo de vezes possível cada peça, até à sua exaustão;
Investir na REPARAÇÃO das peças estragadas e não em novas peças;
Que tal ALUGAR ou PARTILHAR peças com as amigas?
Transformar umas calças rasgadas nuns calções é RECICLAR;
Entregar peças em fim de vida para UPCYCLING;
A forma como fazemos a MANUTENÇÃO das nossas peças, como as lavamos/ secamos durante o seu ciclo de vida, afectam a sua durabilidade e têm um impacto ambiental enorme que está nas nossas mãos reduzir:
- Lava a roupa menos vezes;
- Reduz a temperatura de lavagem das peças;
- Lava as nódoas localmente antes de colocar as peças na máquina;
- Lava apenas cargas completas;
- Utiliza Cora Balls ou Guppyfiends bags para capturar os micro-plásticos que são libertados nas lavagens de roupa sintética;
- Utiliza detergentes ecológicos como os EcoX;
- Estende a roupa ao sol, reduzindo a utilização da máquina de secar;
- Passa a ferro apenas o estritamente necessário;
- Ao pensar substituir a máquina de lavar/secar, ou mesmo o ferro de engomar, opta pelos mais eficientes (A+++, A++ ou A+);

Um armário consciente é versátil e minimalista mas, acima de tudo, é cuidado por quem consome de forma racional e está empenhado em prolongar o ciclo de vida das peças de roupa que já tem. 🌿
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