Diminuir o impacto da minha mobilidade era, há já algum tempo, um objectivo pessoal. Passei a usar menos o carro, a andar mais a pé e a privilegiar os transportes públicos na cidade mas a verdade é que, com duas filhas para deixar na escola todos os dias, faça chuva ou faça sol, e com os estúdios a 35km de casa, preciso de um carro na minha vida. Era importante, portanto, escolher uma viatura mais eficiente e repensar o combustível utilizado. Mas qual?
A Europa ainda usa maioritariamente petróleo mas os carros elétricos têm vindo a ganhar terreno. São silenciosos, não emitem matérias poluentes pelo tubo de escape e podem ser alimentados a energia renovável. Apesar da sua produção ter um custo ambiental superior a um carro a gasolina/diesel, o mais recente e completo estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente prova que “compensam” o CO2 da bateria ao fim de um ano. No entanto, nem tudo são pontos positivos: o lítio das suas baterias é um recurso não renovável como o petróleo e a sua exploração pode provocar sérios danos no ambiente. Afinal quais são as vantagens e as desvantagens dos carros eléctricos?

Menor impacto ambiental a longo-prazo
Para perceber o impacto ambiental de qualquer produto é necessário compreender todo o seu ciclo de vida, desde a extração das matérias-primas à poluição gerada durante a produção e distribuição, assim como o impacto do desperdício residual e da reciclagem. A pergunta “Qual a quantidade de dióxido de carbono que um carro produz?” deve ter em consideração não só as emissões de CO2 durante o uso do automóvel, mas também as emissões provocadas pelas suas fontes de energia e as emissões causadas pela sua produção e descarte.
O gráfico acima mostra-nos que:
– Devido às emissões necessárias à extração e processamento dos componentes das baterias, a produção de um carro elétrico é menos amiga do ambiente do que a produção de um carro com motor gasolina/diesel;
– Na sua utilização, os carros eléctricos não emitem matérias poluentes pelo tubo de escape e, apesar de continuem a existir emissões de partículas decorrentes de avarias e do desgaste dos pneus, são muito inferiores às de um automóvel a gasolina ou a gasóleo;
– Em todo o seu ciclo de vida, os carros eléctricos conduzidos em Portugal (tendo em conta as fontes de energia disponíveis) emitem menos 66% de CO2 do que os carros a gasóleo e menos 68% que as carros a gasolina, compensando o seu custo inicial e revelando ter um menor impacto ambiental a longo prazo.
Este recente estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente sugere ainda que, no futuro, o impacto ambiental dos carros eléctricos será cada vez menor tendo em conta a energia cada vez mais descarbonizada disponível e a evolução prevista para este sector automóvel.
Outra grande diferença entre combustíveis fósseis e baterias de lítio como fontes de energia, é que os combustíveis fósseis são extraídos e usados apenas uma vez, enquanto os materiais presentes nas baterias de lítio são residuais. O investimento na reutilização e reciclagem dos veículos e dos seus componentes é fundamental para minimizar o impacto ambiental da sua produção. É de lamentar que as emissões associadas à reciclagem e à “segunda vida” das baterias (armazenamento de electricidade doméstica ou empresarial) tenham ficado de fora deste estudo. No entanto, os autores acreditam que não existem, para já, dados fiáveis e actuais sobre as emissões associadas ao fim de vida das baterias.
O lítio é um recurso não renovável
O lítio é um recurso não renovável, como o petróleo, e a sua extração pode contaminar ar e lençóis de água, caso ocorram falhas durante a produção, como aconteceu no rio Liqi, no Tibete. Também existe um forte impacto paisagístico, uma vez que a exploração ocorre a céu aberto. Mas, se pensarmos bem, estas questões não são diferentes do perigo já tantas vezes sentido nos derrames de petróleo ou de outros problemas na produção de combustíveis. As explorações de lítio devem ser precedidas de uma avaliação de impacte ambiental rigorosa e não devem avançar a qualquer custo. Cabe ao Governo avaliar, de forma imparcial, os prós e os contras da exploração deste minério.

Além do controle à exploração, o recurso ao minério em estado virgem deve ser reduzido através de maior eficiência das baterias (mais energia elétrica a partir duma quantidade diminuta de lítio) e do reaproveitamento das baterias usadas através da sua reutilização e reciclagem.
Tempo de vida das baterias
Ainda existem receios quanto à duração da vida útil da bateria de um carro eléctrico mas a verdade é que as baterias estão cada vez mais evoluídas, seguras e com óptima vida útil. Uma bateria pode durar até 10 anos, dependendo do modelo de carro elétrico, das condições de uso e de conservação. Para descansar os compradores, diversas marcas oferecem garantia à bateria.
Maior eficiência do motor
A média de consumo de um veículo a gasolina é de 0.98 kWh por quilómetro, enquanto que os veículos eléctricos utilizam tipicamente entre 0.1 a 0.23 kWh por quilómetro, sendo bastante mais eficientes.
Autonomia
Uma das maiores desvantagens apontadas aos carros eléctricos é a autonomia das baterias. Apesar de alguns veículos já terem uma autonomia de cerca de 250 km, sendo uma excelente opção para andar na cidade ou fazer curtas distâncias, uma viagem mais longa, não sendo impossível, requer planeamento.
Travagem Regenerativa
O motor eléctrico de um automóvel pode funcionar como o seu próprio gerador de energia. Durante a travagem do veículo, as ligações do motor são alteradas e a energia produzida é usada para recarregar as baterias, devolvendo energia ao motor e aumentando a sua autonomia.
Tempo de carga e redes de carregamentos
Demora bastante mais tempo a carregar a bateria de um eléctrico do que a atestar um depósito de combustível fóssil, o que constitui uma desvantagem clara contra os eléctricos.
Os carros podem ser carregados em casa, nas tomadas domésticas, ou na rua, através das diversas redes de carregamento disponíveis como a rede Mobi-E (gratuita). Já existem também vários postos de abastecimento rápido, maioritariamente em estações de serviço. No entanto, a verdade é que estas redes ainda não estão bem difundidas, existindo muitos pontos de carregamento nas cidades e poucos nos arredores. Além do que, carregar o carro nem sempre é uma tarefa fácil: é frequente encontrar postos avariados ou lugares de estacionamento para carregamento de carros eléctricos ocupados por outros carros. É necessária mais manutenção e maior fiscalização.
Poupança
Existe uma poupança significativa no abastecimento de um carro eléctrico, uma vez que o preço da electricidade é mais reduzido e mais estável do que o preço dos combustíveis fósseis. Além disso, os veículos eléctricos têm menos custos de manutenção já que não precisam de mudanças de óleo frequentes e outras operações de manutenção ligadas ao motor.
Silenciosos
O carro eléctrico oferece uma experiência de condução mais suave e silenciosa, conseguida pela ausência de várias peças móveis no motor, pela ausência do ruído da combustão e também pela ausência do sistema de escape, uma das principais fontes de ruído num automóvel.
Incentivos Fiscais
De forma a incentivar a mobilidade eléctrica, o Estado Português oferece 3.000€ por cada carro eléctrico particular (preço total não superior a 62.500€, incluindo IVA) e, além do subsídio à aquisição, os proprietários estão isentos do Imposto Sobre Veículos (ISV) e do Imposto Único de Circulação (IUC).
Além dos incentivos fiscais, em Lisboa, os carros elétricos têm direito a um dístico verde na Emel (12euros anuais) e são vários os municípios com isenção/desconto no estacionamento de eléctricos.
Custo de Aquisição
Apesar dos incentivos fiscais e dos custos de manutenção mais baixos, os veículos eléctricos apresentam um custo de aquisição normalmente mais elevado, devido ao custo das baterias e ao facto de ainda serem produzidos em pequenas séries. Com o aumento da procura, estima-se que o valor de marcado diminua.

A minha experiência com o i3 da BMW
Desde Fevereiro que estou a testar o modelo i3 da BMW e a experiência é muito positiva. É um carro leve e ágil que oferece, ao mesmo tempo, aquela sensação de conforto e segurança a bordo, tão característica da marca. É citadino, fácil de estacionar, e apesar de ser compacto (bem como eu gosto!), é um carro para a família. A adaptação às mudanças automáticas foi muito fácil (ao contrário do que eu estava à espera) mas confesso que precisei de tempo para interiorizar a logística eléctrica – já me sinto familiarizada com cartões, postos e cabos de carregamento mas efectivamente a vida com um eléctrico pede planeamento: como não tenho garagem, tenho usado a rede gratuita mobi-E, colocando o i3 a carregar no estacionamento, em média, 1 ou 2 vezes por semana. Conduzir sem emissões traz ainda mais prazer à condução e tenho-me divertido bastante a tentar melhorar a eficiência da minha condução para fazer crescer a autonomia da bateria.
LIVE SEM FILTROS
Na semana passada, conversei com o André Couceiro da equipa BMW Portugal, em directo no Instagram, e debatemos este tão sensível tema “impacto ambiental dos carros eléctricos”. O meu objectivo era perceber qual o verdadeiro grau de comprometimento da marca com a diminuição da pegada ecológica dos seus carros e o resultado foi uma conversa super honesta e transparente. Quem assistiu pôde comprovar o rigor e a coragem com que o André respondeu a todas as exigentes perguntas que tanto eu, como o público IG, colocámos.
Para mim o ponto alto da conversa foi quando o André referiu que “face a um veículo a combustão equivalente, todo o processo de fabrico dos materiais e montagem de componentes do i3, reduz a pegada de CO2 em 50%” surpreendendo-me o facto deste valor já incluir as emissôes resultantes da exploração dos componentes das baterias. O André explicou que este resultado foi conseguido não só pela utilização de materiais reciclados e recicláveis no i3 mas também pela sustentabilidade das fábricas onde é produzido. Outro momento marcante foi quando o André partilhou que “a partir dos 130.000km o i3 compensa a sua produção, em termos de emissões” atingindo assim rapidamente o seu breakeven em termos ambientais. Fiquei bastante satisfeita ao perceber que a BMW está a fazer um sério investimento tanto no desenvolvimento da tecnologia das baterias (para que o recurso ao lítio seja cada vez menor), como no reaproveitamento das baterias em fim de vida, reutilizando-as para armazenamento de energia ou reciclando os seus componentes.
Deixo-vos aqui alguns dados do i3 relevantes para quem pensa aderir à mobilidade eléctrica:
- Eficiência: 0.131 kWh por quilómetro;
- Emissões de CO2: 0 g/km;
- Autonomia: entre 260 e 280 km;
- Tempos de carregamento (0% a 80%):
Posto de carregamento rápido: +/- 42 minutos;
Wallbox/mobi-E/Charge Now (trifásico): +/- 3h12m;
Tomada doméstica: +/- 15h; - Garantia da bateria: 8 anos ou 160.000 km;
O futuro
O presente é eléctrico mas o futuro sustentável é partilhado (a partilha de carros, com ou sem motorista, é uma das soluções apontadas para diminuir o número de carros a circular nas estradas), autónomo (a inteligência artificial já está a testar os primeiros carros autónomos) e muito provavelmente a hidrogénio (os carros a hidrogénio ultrapassam as vantagens dos eléctricos: não emitem CO2, abastecem em 5 minutos e têm uma autonomia de cerca de 600km. No entanto, a segurança dos tanques de hidrogénio ainda é uma questão, o esforço necessário para criar uma rede de abastecimento é enorme e, tanto os custos de produção dos carros, como o preço do hidrogénio, ainda são muito elevados).
Nenhum veículo é 100% limpo
É importante ter noção que nenhum veículo é 100% limpo. A utilização de transportes públicos, o car-sharing, a ida para o trabalho a pé, ou de bicicleta, serão sempre melhores opções para o ambiente. No entanto, se realmente necessitamos de utilizar um automóvel particular, pesadas as vantagens e as desvantagens, um veículo elétrico é, no presente, a melhor escolha para o ambiente. 🌿