Como fazer compostagem em casa?

Tenho sentido em mim uma vontade cada vez maior em descobrir os processos da Natureza. Há dois anos, aceitei de braços abertos a responsabilidade de cuidar do pequeno jardim da casa alugada, aprendi a tomar conta das plantas e das árvores e até me atrevi numa pequena horta biológica. Percebi também que teria a oportunidade de dar mais um #greenlittlestep – no jardim teria oportunidade de fazer a minha própria reciclagem de resíduos orgânicos, mais conhecida como compostagem. Misturando as cascas e os restos das frutas e legumes da minha alimentação vegetariana com as cascas de ovos, as borras do café, as folhas de chá e as folhas secas do jardim eu poderia não só diminuir drasticamente a quantidade de lixo indiferenciado produzido cá em casa, como também iria obter um composto super nutritivo para me ajudar a cuidar do jardim, da horta e das plantas no interior de casa. O processo prometia ser simples: só tinha de colocar tudo nas mãos da Mãe Natureza.

Hoje, passado dois anos desde a instalação do compostor aqui em casa, trago-vos um artigo “a quatro mãos” sobre este verdadeiro milagre chamado compostagem. Eu vou falar-vos sobre a compostagem aeróbia que faço no meu jardim e convidei a Catarina Barreiros, autora do DoZero.pt, para escrever sobre a sua experiência com a vermicompostagem.

O QUE É A COMPOSTAGEM?

A compostagem é um processo de transformação biológica, através do qual, diversos microrganismos decompõem resíduos biodegradáveis (restos de frutas e vegetais, folhas de chá, borras do café, cascas de ovo, etc. ) num fertilizante rico em nutrientes a que se chama composto. Este composto pode ser usado no jardim, na horta ou nas plantas em vasos, nutrindo os solos e melhorando as suas propriedades.

Vantagens da compostagem doméstica

  • Permite a reciclagem de matéria orgânica e o reaproveitamento dos resíduos produzidos em casa;
  • Evita custos e emissão de gases com efeito de estufa na recolha e tratamento dos resíduos;
  • Permite reduzir a quantidade de resíduos que vão parar a aterros (onde se decompõem sem oxigénio, produzindo gás metano, que é cerca de 34 vezes mais nocivo que o dióxido de carbono);
  • Permite reduzir a quantidade de resíduos que são incinerados;
  • Reduz a necessidade de compostagem industrial (que consome muitos recursos energéticos);
  • Permite reduzir os custos das autarquias com a gestão de resíduos;
  • Permite-nos obter um fertilizante orgânico de forma praticamente gratuita;
  • Promove a melhoria das condições dos solos em termos de estrutura, porosidade, fertilidade, capacidade de retenção da água, arejamento e atividade microbiana;
  • Evita a necessidade de recurso a fertilizantes químicos;
  • Permite incluir toda a família no processo, abrindo oportunidade à educação dos mais novos para a importância do equilíbrio dos ecossistemas e da responsabilização pelos resíduos gerados como defende a Catarina Barreiros .

COMPOSTAGEM AERÓBIA

Aderi ao Programa “Lisboa a Compostar” há dois anos atrás, fiz formação e instalei o meu compostor no jardim. A manutenção é ainda mais fácil do que esperava e já usei composto para enriquecer a horta e o jardim. Deixo-vos abaixo as respostas às perguntas mais frequentes relacionadas com a compostagem para que possam arriscar neste #greenlittlestep sem medos!

Quem pode fazer compostagem aeróbia?

Qualquer pessoa com um pequeno espaço exterior livre!

Onde se pode colocar o compostor?

O local do compostor deve ser de fácil acesso, ter água próximo e estar protegido do vento, de preferência debaixo de uma árvore de folha caduca, de modo a evitar temperaturas elevadas no verão e baixas no Inverno (boa mistura de sombra e sol). O compostor deve ser colocado em contacto com a terra, que deverá ter uma boa drenagem de modo a que a água possa escorrer e infiltrar-se quando chover.

Como ocorre o processo?

A compostagem ocorre quando existe água, oxigénio, resíduos secos (castanhos) e resíduos orgânicos (verdes) para estimular o crescimento microbiano. No processo de compostagem aeróbia, os microrganismos presentes na Natureza decompõem a matéria orgânica e produzem dióxido de carbono, água, calor e húmus.

Que materiais podem ser compostados?

Os resíduos a compostar são, normalmente, classificados em “verdes” e “castanhos” conforme o teor de humidade e a proporção de nutrientes. Para que a compostagem decorra da melhor forma, convém ter a maior diversidade de resíduos possível numa proporção igual de “verdes” e “castanhos”.

VERDES (ricos em azoto, geralmente húmidos)

. Folhas verdes
. Ervas daninhas de preferência antes de dar semente
. Restos de vegetais e frutas
. Borras de café
. Folhas de chá
. Cascas de ovos (esmagadas)
. Flores
. Aparas de relva fresca

CASTANHOS (ricos em carbono, geralmente secos)

. Folhas secas
. Resto de relva cortada seca
. Palha ou feno
. Resíduos de cortes e podas (ramos pequenos e finos com cerca de 10cm)
. Aparas de madeira e serradura
. Casca de batata, casca de cebola, casa de alho
. Pão duro
. Caixa de ovos e cartão simples
. Espetos de bambu

Que materiais evitar?

.Comida cozinhada temperada ou com gordura
.Restos de carne, peixe e marisco
. Produtos lácteos
. Cinzas
. Beatas de cigarros
. Medicamentos
. Resíduos de plantas tratadas com produtos químicos
. Excrementos de animais domésticos
. Resíduos não biodegradáveis (plástico, vidro, metal, pilhas, tintas, têxteis, etc.)

Que tipos de compostor existem?

Existem vários tipos de compostor no mercado mas é bastante fácil fazer um em casa: um canto de terreno ou jardim, com uma cerca de rede, onde se possa colocar no interior os resíduos a compostar, é suficiente. Os compostores de madeira, com porta para facilitar a remoção do composto, também são muito populares e existem, ainda, os compostores de plástico, com maior variedade de formas e feitios, inclusive com a possibilidade de um tambor rotativo que permite o arejamento regular do composto.

Vários concelhos como Lisboa e Cascais estão a promover a compostagem doméstica disponibilizando compostores e oferecendo formação. Informem-se junto da vossa autarquia.

Como montar o compostor?


1
. Cortar os resíduos “verdes” e “castanhos” em bocados pequenos;
2. No fundo do compostor, colocar ramos grossos para promover o arejamento e impedir a compactação;
3. Adicionar uma camada de 5 a 10 cm de “castanhos”;
4. Adicionar, no máximo, uma mão cheia de terra ou composto pronto. Esta quantidade conterá microrganismos suficientes para iniciar o processo de compostagem;
5. Adicionar uma camada de “verdes”;
6. Cubrir com outra camada de “castanhos”;
7. Regar cada camada de forma a manter um teor de humidade adequado;
8. Repetir este processo até obter o compostor cheio. As camadas podem ser adi- cionadas todas de uma vez ou à medida que os materiais vão ficando disponíveis.
9. A última camada a adicionar deve ser sempre de “castanhos”, para diminuir os problemas de odores e a proliferação de insectos e outros animais indesejáveis.

Qual a manutenção necessária?

O compostor deve ser visitado regularmente para avaliar:

Oxigénio – a presença de oxigénio no interior dos materiais a compostar é imprescindível para a sobrevivência e atividade dos microrganismos que promovem a compostagem. A falta deste oxigénio conduz à produção de maus odores. Arejar a pilha permite uma decomposição rápida dos materiais e isenta de cheiros. Uma das formas de arejar a pilha é revolver os materiais periodicamente (1 vez por semana).

Humidade – a água é fundamental para os microrganismos decompositores. O excesso ou falta de humidade no meio condicionam negativamente a atividade destes seres vivos.

Temperatura – a atividade dos microrganismos provoca variações de temperatura. Valores elevados são essenciais para maximizar a eficiência de decomposição e higienização dos materiais. Na falta de termómetro, espetar uma barra ou tubo de ferro na pilha e esperar alguns minutos. Ao retirar colocar a mão, se a barra estiver quente, está bom.

É também importante ter em atenção o tamanho dos materiais – o material a decompor deve estar em pequenos pedaços de forma a maximizar a superfície de contacto com os microrganismos. Por outro lado, partículas demasiado pequenas favorecem a compactação e consequentemente limitam a circulação de oxigénio e água. Materiais estruturantes (como os ramos) ajudam a garantir o espaçamento adequado.

O que fazer em caso de problemas?

Problema Causa Provável Solução
Processo lentoDemasiados “castanhos”Adicionar “verdes”, adicionar água e revirar a pilha
Processo lentoMateriais muito grandesCortar os materiais
em tamanhos mais pequenos e revolver
a pilha de compostagem
Mau cheiroHumidade excessiva e/ou compactaçãoAdicionar “castanhos” que aumentam a porosidade
da pilha, como por exemplo pequenos ramos, e revirar
a pilha de compostagem
Cheiro a amóniaDemasiados “verdes”Adicionar “castanhos” e revirar a pilha de compostagem
Temperatura baixaPilha muito pequenaAumentar o volume, adicionando “verdes” e “castanhos”
Temperatura baixaHumidade insuficienteAdicionar água
Temperatura baixaArejamento insuficienteRevolver a pilha
Temperatura baixaFalta de “verdes”Adicionar “verdes”
PragasResto de carne, peixe ou gorduraRetirar estes restos e cobrir com terra, folhas ou serradura

Ao fim de quanto tempo o composto está pronto?

Usando resíduos de pequenas dimensões, mantendo o nível ótimo de humidade e remexendo a pilha todas as semanas, o composto estará pronto em 2 ou 3 meses. No entanto, uma vez que o material é adicionado continuamente, poderá levar um pouco mais de tempo: entre 3 e 6 meses.

Como utilizar o composto?

. Para plantar sementes novas deve ser utilizada 1 parte de composto para 3 de terra;
. Para transplantar plantas que já têm raízes podemos usar 1 parte de composto para 2 de terra;
. Para adubar as plantas em casa, podemos colocar uma camada de composto sobre a terra do vaso. A água levará os nutrientes para a terra abaixo.
. No jardim podemos também espalhar o composto por cima da terra para adubar as plantas;
. Na horta podemos enterrado-lo junto com a terra para a fortalecer.

VERMICOMPOSTAGEM POR CATARINA BARREIROS

Faço vermicompostagem há praticamente um ano e a única coisa que me incomoda é não ter começado mais cedo. Achei que ia precisar de ter um jardim para fazer (tinha receio das minhocas fugirem). Se soubesse o que sei hoje, tinha começado no mini apartamento em que morava antes. É que a vermicompostagem é mesmo uma boa solução para quem não tem quintal. Nem precisam sequer de ter varanda.

Quem pode fazer vermicompostagem?

Quem quiser. Para uma família de 4-5 pessoas, basta ter o espaço equivalente a 3 caixas de arrumação (as que se usam para guardar brinquedos, roupa e… tralha) empilhadas.

Como ocorre o processo?

De um modo muito sucinto, as minhocas californianas comem os resíduos orgânicos que colocamos no compostor, digerem-nos e transformam em composto em cerca de 2 meses (quanto mais triturados os resíduos, mais rápida a compostagem).

Onde colocar o compostor?

Num local onde as temperaturas não sejam inferiores a 10ºC nem superiores a 30ºC. Convém o compostor ser de cor escura ou estar num sítio fechado (uma despensa interior, por exemplo), porque as minhocas são fotossensíveis.

Como montar um vermicompostor?

Existem vermicompostores já feitos, como os da Revolução das Minhocas ou da BioRecycle, mas é muito fácil fazer o nosso. Basta ter 3 caixas iguais, de plástico ou madeira (metal não aconselho porque é muito termocondutor). Na de baixo vai ficar o líquido que resulta da vermicompostagem (que só existe mesmo neste tipo de compostagem e que é muito bom para adubar a terra durante a rega – bem diluído!). Nas duas de cima vamos colocando os resíduos orgânicos, mas convém ter duas porque, quando a do meio estiver cheia, começamos a colocar na de cima e deixamos a do meio ficar a maturar o composto durante os 2 meses. A única coisa que temos de ter atenção é que as caixas têm de comunicar entre si (ter furinhos) e as duas de cima têm de receber oxigénio, pelo que devem ter também furos nas laterais. Idealmente, o compostor está elevado, para ser fácil retirar o líquido da caixa de baixo e para diminuir o acesso de roedores ao compostor, caso existam nas proximidades.

Para começar a compostagem, basta colocar na caixa do meio um punhado ou dois de minhocas californianas e adicionar matéria verde (em pedaços), seguida de matéria castanha (também em pedaços), de modo a cobrir bem a matéria verde. Ir repetindo o processo até encher a caixa. Quando estiver cheia, deixar “descansar” sem mexer na caixa durante 1-2 meses e fazer exatamente o mesmo na caixa de cima.

Que materiais podem ser compostados?

No vermicompostor podem ser colocados todos os resíduos alimentares de origem vegetal, excepto cebolas e citrinos, por serem muito ácidos e comprometerem o ambiente ideal para as minhocas no compostor.

Deve ser sempre intercalada matéria verde com matéria castanha. 

Exemplos de matéria verde: vegetais (sem sementes), frutas (sem sementes), comida cozinhada, aparas de relva, borras de café (atenção que as borras promovem a multiplicação das minhocas. Se têm uma comunidade muito grande, ponham poucas borras), folha de chá (sem saqueta ou com saqueta 100% papel / algodão), flores (sem sementes), pão, sopa, massas, arroz.

Exemplos de matéria castanha: papel e cartão (simples, sem tintas nem acabamentos plásticos), palha, serradura, madeira (pauzinhos de sushi e de gelado!), cascas de ovo (lavadas e secas, sem a película interior), parte de dentro do rolo de papel higiénico, corda natural / cisal

Que materiais evitar?

Carne, peixe, lacticínios, citrinos, cebolas, sementes e caroços (se desfizerem / triturarem, podem colocar), plantas com raíz, cabelos / Pêlos, roupa, embalagens biodegradáveis (que só sejam compostáveis industrialmente), dejetos, flores com pragas, óleos, cinzas, restos de animais, borracha, papel higiénico usado, fraldas de qualquer tipo.

Qual a manutenção necessária?

Uma a duas vezes por semana, juntar em igual proporção matéria verde e matéria castanha. Ir avaliando para ajustar a regularidade e a proporção das duas matérias.

O que fazer em caso de problemas?

Mau cheiro:

A vermicompostagem não tem cheiro (de fora). Apenas o líquido tem um odor forte, mas está na caixa sem buracos e não deve sentir-e o cheiro fora da caixa. Caso aconteça:

– Pode estar a colocar matéria verde a mais. Alimentar menos ou incentivar a reprodução das minhocas com borra de café pode ajudar. 

– A matéria verde pode também não estar bem coberta com matéria castanha. Cobrir resolve o cheiro. 

– Pode existir demasiada humidade (líquido, água nas paredes do compostor). Se acontecer, basta adicionar matéria castanha. 

– O líquido do coposto pode não estar a escoar bem. Verifique os orifícios que ligam a caixa de baixo à do meio.

Moscas: 

Se começarem a querer entrar moscas no compostor, podem estar a acontecer 3 coisas:

– Pode estar a colocar matéria verde a mais (alimentar menos ou estimular reprodução das minhocas)

– A matéria verde pode não estar bem coberta com matéria castanha. Cobrir.

– Podem ser moscas mais… insistentes. Coloque uma armadilha para moscas perto do compostor.

Minhocas a morrer ou fugir:

É RARO acontecer as minhocas fugirem, até porque com a luz elas secam e morrem. As minhocas querem ficar no compostor, onde há comida, abrigo da luz e condições ideais. Se começarem a querer fugir, é sinal de que as condições no compostor estão muito muito más. Ou seja, em caso de:

– Temperatura extrema. Basta mudar a localização do compostor, adicionar água (se estiver muito quente) ou colocar uma manta à volta (se estiver muito frio).

– Muita, muita, MUITA humidade / secura / falta de alimento. Adicionar, respectivamente, matéria castanha / água / alimento (matéria orgânica).

Parece um contra-senso, mas se as minhocas estiverem a tentar fugir, o ideal é abrir a tampa e fazer entrar o máximo de luz possível no compostor. Elas vão entrar para dentro do composto, para fugir à luz.

Ao fim de quanto tempo o composto está pronto?

O primeiro líquido (da caixa de baixo) está pronto ao final de cerca de um mês. Depois disso, pode ser retirado praticamente todas as semanas. O composto sólido, dependendo das condições do compostor, em 2-3 meses está pronto.

Como utilizar o composto?

Líquido: 1/10 (Composto / Água) para regar a terra

Sólido: 5 a 10 litros por m2 de solo / horta (regra geral,para 1 parte de adubo, colocar 3 partes de terra); Fazer uma pequena vala à volta da planta e colocar o composto; Depois das épocas de plantio, após retirar bem todas as raízes, adicionar composto à terra para ajudar a repor os nutrientes e preparar a próxima época. – Para utilizar em vasos: colocar por cima uma camada fina e regar para os nutrientes descerem até às raízes

A compostagem na pirâmide do desperdício

Como fazer compostagem em casa

A compostagem é um passo incrível na luta contra o desperdício. Desde que que instalei o compostor em casa, o volume de lixo indiferenciado reduziu drasticamente. No entanto, a compostagem só por si não fará desaparecer todo o lixo desnecessário da face da Terra, assim com a reciclagem não é “um penso rápido para o excesso de consumo”. Antes do “compostar” é importante recusar o que não é preciso, reduzindo o consumo desenfreado, e reutilizar o que já existe até à exaustão – só assim poderemos minimizar o nosso impacto humano neste planeta a que chamamos casa. 🌿