Fotografia de Miguel Manso
A 28 de fevereiro de 2022, mais de 60% do território nacional estava em seca extrema (dados IPMA). A falta de chuva e as temperaturas médias mensais cada vez mais altas são as principais responsáveis por este cenário de seca, que tende a agravar – com as alterações climáticas, as secas tornar-se-ão mais intensas, mais frequentes e mais prolongadas.
Longos períodos de seca provocam graves prejuízos económicos, nomeadamente nos sectores da agricultura e da pecuária. Ao mesmo tempo, o baixo nível de água nas barragens traz dificuldades no fornecimento de água potável às populações. É urgente poupar água.
Onde está a água?
O planeta Terra é composto maioritariamente por água. No entanto, apenas 2,5% da água disponível é potável, sendo os restantes 97,5% compostos pela água salgada dos mares e oceanos. Destes 2,5% de água potável, apenas 1% está disponível para consumo humano (lagos, rios, reservatórios e aquíferos rasos). A restante água doce encontra-se inacessível, a uma enorme profundidade, nos aquíferos, ou congelada nos glaciares.

A escassez de água potável
Utilizamos a água para beber, para produzir os nossos alimentos, para fazermos a nossa higiene e está presente em tudo o que consumimos. Dependemos da água potável para sobreviver. Com o crescimento populacional, o desenvolvimento socioeconómico e a evolução dos padrões de consumo, o acesso a esta fonte de vida será cada vez mais limitado.
Ao mesmo tempo, que o uso da água tem vindo a aumentar em todo o Mundo (cerca de 1% por ano, desde a década de 1980), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirma que os danos causados pela degradação do meio ambiente fazem o nível da água potável disponível no planeta diminuir anualmente. De acordo com a entidade da ONU, nos últimos vinte anos, o volume tem caído um centímetro por ano, tanto nos reservatórios de superfície quanto nos subterrâneos.
Se, nos dias de hoje, a escassez de água já afeta quatro em cada dez pessoas (dados QUEM), este número vai aumentar no futuro.
Utilização responsável e reutilização
A solução deve ser guiada por ações conjuntas e integradas entre governos, iniciativa privada, sociedade e ONGs. O caminho está na utilização responsável e na reutilização da água; em alternativas mais eficientes para o armazenamento e no fornecimento; no combate ao desperdício; e na preservação dos ecossistemas naturais.

Dicas para poupar água em casa
A nível europeu, a agricultura é a responsável pelo consumo de 25% de água doce; a indústria por 54% e a utilização doméstica/comercial por 21% (dados FAO). Vamos fazer a nossa parte? Para poupar centenas de litros de água por mês, basta alterar pequenos hábitos diários:
- Tomar duches rápidos e esquecer os banhos de imersão;
- Reaproveitar a água de aquecer o banho;
- Fechar o torneira quando lavamos os dentes ou a loiça;
- Instalar redutores de caudal nas torneiras para reduzir o fluxo e, consequente, o consumo de água;
- Colocar uma garrafa de 1,5l no autoclismo para diminuir a quantidade de água nas descargas;
- Comprar produtos de higiene e limpeza sólidos e concentrados (têm menos água na sua composição);
- Na compra de electrodomésticos, optar pelos de menor consumo de água e electricidade;
- Encher totalmente as máquinas da loiça e da roupa para optimizar o consumo de água da lavagem;
- Comer menos carne;
- Cozinhar os legumes a vapor, usando menos água;
- Reaproveitar água que fica nos copos da mesa para os animais ou para as plantas;
- Armazenar a água da chuva para regar as plantas ou a horta;
- Regar o jardim fora das horas de maior calor, de manhã cedo ou à noite, para não perder a água para a evaporação.
- Fazer cobertura do solo nas hortas/jardim (mulching) com casca de pinheiro, cartão, palha ou folhas secas. Desta forma, o contacto directo da luz solar com o solo diminui, conservando a humidade da terra.
A água invisível
Sabiam que uma camisola básica de algodão equivale a cerca de 2.700 litros de água, um par de jeans a 7.500 litros e que são necessários 12.000 litros para produzir um telemóvel topo de gama? Esta é a “água invisível” presente em todos os bens que consumimos e que, na preservação deste recurso tão valioso, também precisa de ser tida em conta. Quando reduzimos o nosso consumo ao essencial, quando reutilizamos e até quando escolhemos participar no processo de reciclagem (o processo de reciclagem consome menos água do que a produção através de matéria-prima virgem) estamos a poupar água! Ao optar por uma alimentação vegetariana, estamos também a contribuir para a poupança de água potável, uma vez que, para produzir 1 kg de carne são necessários 15.000 litros de água potável, enquanto que para produzir 1 kg de grão (fonte de proteína vegetal), por exemplo, são precisos 4.200 litros de água.

A factura que ajuda a poupar água
De acordo com a Organização das Nações Unidas, cada pessoa necessita de cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene. Em Lisboa, cada pessoa consome, em média, 133 litros de água por dia – mais 23 litros do que o sugerido pela ONU (dados EPAL).

Através da factura electrónica da água (pois a produção de papel consome muita água!), conseguimos ter uma maior noção do nosso consumo médio e adequá-lo. É importante fazer uma comunicação regular da leitura do contador de água, de forma a evitar estimativas de consumo e a controlar melhor os gastos de água.
Poupar juntos
Quando a este tema, parecem não haver dúvidas: a solução passa por usar menos e melhor a escassa água potável que temos à nossa disposição. Todos juntos, fazemos uma enorme diferença. 💧