Passado um ano de deixar de comer carne, deixei de comer peixe também. Não fazia parte do meu plano deixar de comer peixe tão depressa mas a verdade é que sempre que comia peixe tinha digestões muito difíceis. Resolvi ouvir o meu corpo e retirei o peixe da minha alimentação, passando a ser totalmente vegetariana, no fim de 2019. Na altura, pouco sabia sobre a forma insustentável como se estava a fazer pesca no Mundo… Se o soubesse, já teria reduzido o meu consumo de peixe há muito tempo.
O consumo de peixe em Portugal
A Organização Mundial de Saúde recomenda um consumo de peixe entre uma a duas porções de 150 g por semana, o que resultaria num consumo anual per capita entre os 7,8 kg e os 15,6 kg de peixe. Mas a média anual mundial de consumo situa‐se nos 20,9 kg (FAO, 2020) e, em Portugal, este valor chega aos 60,9 kg (EUMOFA, 2020), o que faz do nosso país um dos maiores consumidores de pescado do Mundo.
Os principais peixes consumidos em Portugal são a sardinha, o carapau, o polvo, a pescada e o peixe-espada, e cerca de 60% do pescado que consumimos é importado (importamos grandes quantidades de bacalhau e salmão).
Consumo excessivo e sobrepesca
Para fazer face à procura mundial, estamos a tirar mais peixes do mar do que aquilo que é biologicamente sustentável. Todos os anos, são pescados mais de 70 milhões de peixe no Mundo (WWF) – está a praticar-se sobrepesca.
A pesca ilegal, não regulamentada e não declarada (IUU, em inglês) também contribui para o problema da sobrepesca, uma vez que estas práticas não cumprem a legislação existente, operando sem qualquer preocupação pelo ambiente ou pelas quotas de pesca regulamentadas.
Quando muitos peixes são capturados e não existem adultos suficientes para reproduzir e sustentar uma população saudável, considera-se que a população de peixes está sobreexplorada. Actualmente, segundo a WWF, 93% dos stocks de peixe no Mediterrâneo e 31% dos stocks globais de peixe estão sobreexplorados. Há uma drástica redução das populações das diferentes espécies e há perda de biodiversidade. Os ecossistemas marinhos estão em risco e, se continuarmos assim, em breve poderá não haver peixe para pescar ou comer.
Dicas para um consumo mais consciente
Para restaurar o equilibro no ecossistema marinho precisamos reduzir o nosso consumo de peixe e aprender a fazê-lo de forma mais responsável. Devemos:
- Reduzir consumo de peixe para os níveis recomendados pela OMS;
- Evitar consumir peixe que ainda não é adulto;
- Evitar consumir peixe fresco capturado fora da época. Sabiam que a sardinha não pode ser capturada entre Dezembro e Janeiro, pois se encontra em reprodução?
- Diversificar a escolha do peixe que consumimos para manter o equilíbrio nos oceanos: a sardinha pode ser substituída pelo carapau ou pela cavala e a tainha é uma óptima alternativa ao robalo;
- Preferir as espécies que vivem mais perto da superfície, como o carapau e a cavala, pois são mais abundantes;
- Diminuir a ingestão de predadores de topo, como o atum e o bacalhau, e optar por espécies de níveis médio ou inferiores da cadeia alimentar, mais abundantes, permitindo aumentar a resiliência das populações;
- Proteger as espécies em risco, evitando o seu consumo (consultem guiapescado.wwf.pt);
- Analisar os rótulos do pescado: o selo azul do MSC é uma certificação de pesca sustentável, enquanto que a etiqueta CCL (Comprovativo de Compra em Lota) é um selo que garante que o pescado nacional foi controlado e rastreado desde o momento de captura até ao momento do seu desembarque nas lotas portuguesas;
- Preferir peixe pescado em Portugal pois tem menor pegada carbónica;
- Respeitar mares e oceanos não deitando lixo para o chão ou para o mar;