Estamos em Setembro. Passou mais um Verão. Todos se queixam do clima instável e chegam cada vez mais estudos e relatórios acerca do nosso futuro. Numa espécie de auditoria à minha vida constatei o óbvio: é urgente aprender a viver com menos. Mas como?
Viver com menos – lifestyle ou sobrevivência?
Tenho estado menos online. Precisava de recuperar de um intenso período de trabalho e quis muito dedicar-me às minhas filhas durante as férias. Reconhecer quando temos de parar é também uma questão de sustentabilidade – é importante conhecer os nossos limites (/recursos) e respeitá-los.
Desde que parei de gravar, em julho, li “21 desafios para o século XXI” do Yuval Noah Harari, “Siddhartha”, “A profecia Celestina”, vi as séries “Years and Years” e “Euphoria” e comecei o documentário “Strange Rock”. A maior parte destes conteúdos fala sobre os próximos anos e os seus desafios. E embora nem todas as previsões se realizem – caso contrário o teletransporte já seria possível hoje – a ficção especulativa é um excelente exercício “open your mind” – divirto-me a pensar como me adaptaria à implantação de um telemóvel na minha própria mão como sugere “Years and Years”…
Acho muito importante projectar os nossos sonhos e imaginar onde gostaríamos de estar daqui a 1 ano, 5 anos ou 10anos. Isso dá-me foco, faz-me acordar com vontade de concretizar os planos e dá-me alegria pela vida. Sou das pessoas mais optimistas que conheço e esforço-me sempre por ver o lado bom das coisas. Tenho para mim que a fase que atravessamos enquanto espécie vai-nos fazer readaptar e evoluir. Mas a verdade é que o cenário é assustador – como explica a Visão, na edição deste mês, a tendência nas alterações climáticas faz prever períodos de seca que podem ir até 15anos, aumento do nível médio do mar e tempestades cada vez mais fortes e recorrentes ainda este século (como referi neste artigo). O sul da Europa será fortemente afetado, candidatando os portugueses à lista dos previstos 200 milhoes de refugiados climáticos mas nenhum canto do Mundo está a salvo. A economia e a agricultura serão seriamente abaladas e haverá cada vez menos peixe no mar graças à poluição e à acidez dos oceanos (provocada pela absorção crescente de carbono). A pecuária é a maior responsável pela emissão dos gases com efeito de estufa e terá de ser “encolhida”. Haverá menos território, menos pib, menos riqueza, menos água potável, menor oferta de alimentos e produtos e teremos de aprender a viver com menos. E atenção, isto não é um cenário catastrófico – é bem real e já está a acontecer.
O que antes era um lifestyle, um esforço para diminuir o impacto individual no planeta, passará a ser uma aprendizagem de como viver com menos no futuro. Quem mais cedo fizer este exercício, menos sentirá o aperto.

Viver com menos – onde cortar?
Tudo isto levou-me a fazer uma espécie de auditoria à minha vida. Quais são as minhas necessidades básicas, aquelas das quais não posso prescindir e quais são as supérfulas? Não preciso de almoçar fora tantas vezes, não preciso de tanta roupa, as minhas filhas não precisam de tantos brinquedos. Decididamente preciso de um local onde viver, de me alimentar, de me vestir e de me deslocar. Mas mesmo as necessidades básicas podem ser revistas:
- Repensar a casa: melhorar a eficiência energética da casa; reduzir o número de electrodomésticos, diminuindo o consumo de electricidade; contratualizar electricidade produzida por fontes renováveis ou mesmo instalar painéis solares; optar por uma casa pequena e prática com uma decoração minimalista; plantar o maior número possível de plantas no jardim ou na varanda (elas são nossas amigas e ajudam-nos a absorver o carbono); usar um sistema de captação da água das chuvas;
- Repensar a dieta: nunca o tema “não comer carne” foi tão falado (e ainda bem!) – a produção de carne é responsável por 13% a 18% das emissões globais de gases com efeito de estufa e é imperativo reduzir o seu consumo (dediquei um artigo sobre este tema aqui); programar as refeições, comprar as quantidades adequadas de alimentos a granel e diminuir o desperdício alimentar; reconectar com a Natuteza, conhecer os seus ciclos, experimentar a agricultura biológica para auto-consumo e a compostagem;
- Repensar o vestuário: optar por peças básicas, intemporais, que durem muitos anos; investir nos cuidados com a roupa e menos em comprar novo;
- Repensar os meios de transporte: andar mais a pé, deixar o carro em casa e optar por um mais eficiente nas viagens obrigatórias; utilizar os transportes públicos; fazer menos viagens de avião e comprar compensações de carbono;
- Repensar a necessidade de posse: será que preciso de comprar um cortador de relva para o usar 1/mês? Vamos incentivar a partilha e abusar do aluguer;
- Repensar o lixo: recusar o que não é preciso, reduzir o consumo, reutilizar o existente, produzir novo a partir da reciclagem e da compostagem conduz-nos a uma sociedade “lixo zero”, sem aterros, sem incinerações e com máxima eficiência de recursos;

E não vale a pena continuarmos a enganarmo-nos a nós mesmos. Se queremos conter as alterações climáticas temos de estar preparados para mudar a nível global. As pequenas mudanças são importantes mas são insuficientes se isoladas e é aqui que, a meu ver, está o desafio actual da humanidade: apenas conseguiremos salvar o planeta se todos (indivíduos, empresas, países) se juntarem à causa. Um esforço gigante para baixar as emissões de carbono na Suécia é indiferente se a Alemanha continuar a aumentá-las. Nunca a união foi tão importante. E o caminho passará certamente por viver com menos. 🌿